Claudia Sampaio
Psicanalista e Pedagoga
Freud fala em três níveis de ciúmes:
1. Normal
“É fácil perceber que essencialmente se compõe de pesar, de sofrimento causado pelo pensamento de perder o objeto amado, e da ferida narcísica [...] de sentimentos de inimizade contra o rival bem-sucedido e de maior ou menor quantidade de autocrítica, que procura responsabilizar por sua perda o próprio ego do sujeito.” (FREUD, [1922], p. 271).

Aqui o ciúme está relacionado à concorrência com o rival, à perda do objeto amado e ao narcisismo. Nesse tipo de ciúme o que está em questão é mais o amor próprio do que o amor ao outro. O ciumento acha que pode perder a pessoa amada para outra, então na verdade o que o ciumento não admite é perder. Nesse caso o ciúme não tem nada a ver com o amor, o que está em questão é o próprio ciumento e seu desejo de não perder, de não ficar em segundo plano. Sendo assim, o interesse do ciumento não é pelo ser amado, é um interesse por si mesmo, pelo próprio bem estar e status.
2. Ciúme projetado
“O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão.” (FREUD, [1922], p. 272).
O segundo tipo seria o ciúme originado da projeção no outro de seus próprios desejos de infidelidade, realizados ou não. Explicando melhor: se desejamos ter outras relações, supomos, inconscientemente, que o outro deseja o mesmo. Assim, o ciumento pode ser quem verdadeiramente tem o desejo de trair.
O ciúme também pode ser aprendido em casa. O sujeito que vem de uma família em que ciúmes e controle aparecem disfarçados de cuidado e preocupação excessivos achará esse funcionamento normal e aceitável.
3. Delirante:
“Tem sua origem em impulsos reprimidos no sentido da infidelidade, mas o objeto, nestes casos, é o mesmo sexo do sujeito. O ciúme delirante é o sobrante de um homossexualismo que cumpriu seu curso e corretamente toma sua posição entre as formas clássicas da paranoia.” (FREUD, [1922], p. 273).
O ciúme delirante está relacionado à paranoia e nesta o homem se vê perseguido por alguém do mesmo sexo. Também tem origem nos desejos reprimidos de infidelidade, mas nesse caso o desejo é homossexual. Segundo Freud, o homem procura negar o impulso homossexual com a ideia de que é a mulher que ama outro homem e não ele próprio: “Eu não o amo, é ela que o ama!” (FREUD, [1922], p. 273).
Seja como for, o ciúme tem efeito destrutivo sobre os relacionamentos. Daí a importância da busca por um tratamento psicanalítico que possibilitará reconhecer as origens do problema e a construção de um relacionamento mais saudável.